segunda-feira, 8 de julho de 2013

Papa Francisco: Não devemos ter medo de renovar as estruturas da Igreja

Rádio Vaticana











Cidade do Vaticano (RV) - "Vinho novo em odres novos", foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada, na manhã deste sábado, na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, a última missa com a presença de grupos antes da pausa de verão. A celebração contou com a presença, dentre outros, de um grupo de recrutas da Guarda Suíça Pontifícia.
"A doutrina da lei é enriquecida com Jesus, é renovada, e Jesus faz novas todas as coisas", disse ainda o pontífice. Jesus renova verdadeiramente a lei, a mesma lei, porém mais amadurecida e renovada.
O Papa sublinhou que "as exigências de Jesus eram maiores do que as da lei." A lei permite odiar o inimigo, em vez disso, Jesus diz para rezar por ele. Este é o Reino de Deus que Jesus pregou. A renovação deve acontecer primeiramente em nossos corações. "Nós pensamos que ser cristão significa fazer isso ou aquilo, mas não é assim", disse o Santo Padre acrescentando:
"Ser cristão significa deixar-se renovar por Jesus nesta nova vida. Eu sou um bom cristão, todos os domingos, de 11h ao meio-dia, vou à missa e faço isso como se fosse uma coleção. A vida cristã não é uma colagem de coisas. É uma totalidade harmoniosa, feita pelo Espírito Santo que renova tudo: renova o nosso coração, a nossa vida e nos faz viver num estilo diferente, num estilo que envolve toda a existência. Não se pode ser cristão pela metade, a tempo parcial. O cristão a tempo parcial não funciona! Tudo, totalidade a tempo integral. Esta renovação é o Espírito quem nos faz. Ser cristão não significa fazer coisas, mas deixar-se renovar pelo Espírito Santo ou para usar as palavras de Jesus, tornar-se vinho novo."
A novidade do Evangelho é uma novidade, mas na mesma lei que vem na história da salvação. Esta novidade vai além de nós mesmos, nos renova e renova as estruturas. Por isso, Jesus disse que para o vinho novo são necessários odres novos:
"Na vida cristã e também na vida da Igreja existem estruturas antigas, estruturas superadas. É necessário renová-las! E a Igreja sempre esteve atenta a isso, com o diálogo com as culturas. Sempre se deixa renovar, segundo os lugares, tempos e pessoas. Este trabalho sempre foi feito pela Igreja! Desde o primeiro momento, lembramos a primeira batalha teológica: para tornar-se cristão é necessário cumprir toda a prática judaica ou não? Não! Eles disseram não! Os gentios podem entrar como como são: gentios. Entrar na Igreja e receber o Batismo. Primeira renovação da estrutura. E assim a Igreja sempre foi adiante, deixando que o Espírito Santo renove estas estruturas, estruturas da Igreja. Não tenha medo da novidade do Evangelho. Não tenha medo da novidade que o Espírito Santo faz em nós! Não tenha medo da renovação das estruturas."
"A Igreja é livre. É guiada pelo Espírito Santo. O Evangelho nos ensina a liberdade de encontrar sempre a novidade do Evangelho em nós, em nossas vidas e também nas estruturas", frisou ainda o pontífice. O Santo Padre reiterou a importância da "liberdade de escolher os odres novos", acrescentando que "o cristão é um homem livre", com a liberdade que Jesus nos dá. "O cristão não é escravo de hábitos e estruturas, mas é conduzido pelo Espírito Santo." O Papa recordou também que no dia de Pentecostes junto com os discípulos estava também Nossa Senhora:
"Onde está a mãe, os filhos estão seguros! Peçamos a graça de não ter medo da novidade do Evangelho, de não ter medo da renovação que o Espírito Santo nos faz, de não ter medo de derrubar as estruturas superadas que nos aprisionam. Se temos medo, sabemos que a nossa Mãe está conosco. Como crianças com um pouco de medo, vamos até ela que nos protege com o seu manto e com sua proteção de mãe." (MJ)

Não ter medo da ternura de Deus! A fecundidade da evangelização é graça: Papa na missa dominical com jovens em caminho vocacional

 Rádio Vaticana

Milhares de jovens, rapazes e raparigas, de 66 diferentes países do mundo - seminaristas, noviços e noviças, participam esta manhã, na basílica de São Pedro, à Missa presidida pelo Papa, que na homilia, sublinhou três pontos, a partir das Leituras do dia: a alegria da consolação, a cruz de Cristo como ponto de referência da missão, e a dimensão contemplativa da vida ministerial e de serviço. A celebração pode ser seguida em streaming neste site da nossa emissora, com comentários em diferentes línguas, incluindo o português.
Comentando a primeira leitura, do Livro de Isaías, o Papa sublinhou que se trata de “um grande convite à alegria”: Cada cristão, mas sobretudo nós, somos chamados a levar esta mensagem de esperança, que dá serenidade e alegria: a consolação de Deus, a sua ternura para com todos. Mas só podemos ser seus portadores, se experimentarmos nós primeiro a alegria de ser consolados por Ele, de ser amados por Ele. Isto é importante para que a nossa missão seja fecunda: sentir a consolação de Deus e transmiti-la!Aludindo depois ao texto paulino em que o Apóstolo declara não se gloriar já senão na Cruz de Cristo,:
… foi precisamente o ter-se deixado configurar à morte de Jesus que fez São Paulo participar na sua ressurreição, na sua vitória. Na hora da escuridão e da prova, já está presente e operante a alvorada da luz e da salvação. O mistério pascal é o coração palpitante da missão da Igreja. Se permanecermos dentro deste mistério (prosseguiu o Papa), estamos a coberto quer de uma visão mundana e triunfalista da missão, quer do desânimo que pode surgir à vista das provas e dos insucessos. A fecundidade pastoral, a fecundidade do anúncio do Evangelho não deriva do sucesso nem do insucesso vistos segundo critérios de avaliação humana, mas de conformar-se com a lógica da Cruz de Jesus, que é a lógica de sair de si mesmo e dar-se, a lógica do amor. Último aspecto sublinhado pelo Papa, nesta homilia: a oração. No Evangelho, Jesus diz-nos para rogar ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe: Os trabalhadores para a messe não são escolhidos através de campanhas publicitárias ou apelos ao serviço e à generosidade, mas são «escolhidos» e «mandados» por Deus. É ELe que escolhe, é Ele que envia, é Ele que manda, é Ele que dá a missão . Por isso é importante a oração. A Igreja – repetia Bento XVI – não é nossa, mas de Deus. Quantas vezes nós, os consagrados, pensamos que a Igreja é nossa.... Fazemos tudo o que nos vem à cabeça... Mas não é nossa, é de Deus. O campo a cultivar é d’Ele. Assim, a missão é sobretudo graça.
A concluir, o Papa citou uma afirmação que lhe tinha sido feita, há dias, por um formador, presente neste momento em São Pedro: “A evangelização faz-se de joelhos”. O risco do activismo, de confiar demasiado nas estruturas, está sempre à espreita. Se olhamos a vida de Jesus, constatamos que, na véspera de cada decisão ou acontecimento importante, Ele Se recolhia em oração intensa e prolongada. Cultivemos a dimensão contemplativa, mesmo no turbilhão dos compromissos mais urgentes e prementes. E quanto mais a missão vos chamar para ir para as periferias existenciais, tanto mais o vosso coração se mantenha unido ao de Cristo, cheio de misericórdia e de amor. Aqui reside o segredo da fecundidade de um discípulo do Senhor!

Papa Francisco aos seminaristas, noviços e noviças: Desejo uma Igreja missionária

Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) - O Santo Padre encontrou-se na tarde deste sábado, na Sala Paulo VI, no Vaticano, com os seminaristas, noviços, noviças, e os jovens que estão no caminho vocacional.
Em sua reflexão, o Papa Francisco chamou a atenção para um perigo constante, ou seja, a cultura do provisório:
"Eu não culpo vocês. Reprovo esta cultura do provisório que não nos faz bem, pois uma escolha definitiva hoje é muito difícil. Na minha época era mais fácil, porque a cultura favorecia uma escolha definitiva tanto para a vida matrimonial, quanto para a vida consagrada ou sacerdotal, mas nesta época não é fácil uma escolha definitiva. Nós somos vítimas desta cultura do provisório."
O Papa frisou que o chamado é primeiramente uma alegria que não nasce do possuir o último modelo de smartphone, de moto ou carro:
"Digo realmente a vocês que me sinto mal quando vejo um sacerdote ou uma religiosa com um carro chique. Não pode ser assim! Reconheço que o carro seja necessário, pois nos ajuda a nos mover com facilidade. Comprem um carro mais simples. E se você gostou do carro bonito, pense nas muitas crianças que morrem de fome. Somente isso."
O Santo Padre destacou que a "alegria nasce do sentir-se dizer: Você é importante para mim. É isso que Deus nos faz entender. Ao nos chamar, Deus nos diz: Você é importante para mim, eu te quero bem, conto contigo. Entender isso é o segredo de nossa alegria. Sentir-se amados por Deus, sentir que para Ele não somos números, mas pessoas. Sentir que é Ele quem nos chama. Tornar-se sacerdote, religioso e religiosa não é antes de tudo uma escolha nossa, mas a resposta a um chamado e um chamado de amor".
"Essa alegria é contagiosa. Não pode haver santidade na tristeza", disse o Santo Padre que deu uma forte indicação aos jovens sobre o voto de castidade, "um caminho que amadurece na paternidade e maternidade pastoral":
"Vocês, seminaristas e religiosas consagrem o seu amor a Jesus, um grande amor; o coração é para Jesus e isso nos leva a fazer o voto de castidade, o voto de celibato. Mas os votos de castidade e do celibato não terminam no momento do voto, continua. Quando um sacerdote não é pai de sua comunidade, quando uma religiosa não é mãe de todos aqueles com os quais trabalha, se tornam tristes. Este é o problema. A raiz da tristeza na vida pastoral é a falta de paternidade e maternidade que vem da maneira de viver mal esta consagração, que nos deve levar à fertilidade. Não se pode pensar num sacerdote ou numa religiosa que não são fecundos: isso não é católico! Isso não é católico! Esta é a beleza da consagração: é a alegria, a alegria".
Enfim, o Papa convidou os presentes a saírem de si mesmos para encontrar Jesus na oração e sair para encontrar os outros, e acrescentou: "Eu desejo uma Igreja missionária":
"Dêem sua contribuição em favor de uma Igreja assim: fiel ao caminho que Jesus quer. Não aprendem conosco, que não somos mais jovens; não aprendam conosco aquele esporte que nós, os velhos, muitas vezes fazemos: o esporte da reclamação. Não aprendam conosco o culto da reclamação. É uma deusa que se lamenta sempre. Sejam positivos, cultivem a vida espiritual e, ao mesmo tempo, sejam capazes de encontrar as pessoas, especialmente as desprezadas e desfavorecidas. Não tenham medo de sair e caminhar contracorrente. Sejam contemplativos e missionários. Tenham sempre Nossa Senhora com vocês. Rezem o Terço, por favor. Não o abandonem. Tenham sempre Maria em sua casa e rezem por mim, porque eu também preciso de orações, pois sou um pobre pecador." (MJ)

Papa Francisco: A nossa alegria é ser discípulos e amigos de Jesus










Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco rezou o Angelus deste domingo, 07 de julho, da janela da residência pontifícia, com milhares de fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro.
Na alocução que precedeu a oração mariana, o pontífice manifestou a alegria de ter partilhado com os seminaristas, noviços e noviças a peregrinação especial do Ano da Fé e pediu aos fiéis para que rezem por eles a fim de que amadureça cada vez mais em suas vidas o amor por Cristo e se tornem verdadeiros missionários do Reino de Deus".
"O Evangelho deste domingo nos diz que Jesus não é um missionário isolado, não quer cumprir sozinho a sua missão, mas envolve os seus discípulos. Vemos que além dos Doze Apóstolos, ele chama outros setenta e dois e os manda aos povoados, dois a dois, para anunciar que o Reino de Deus está próximo. Isso é muito bonito! Jesus não quer agir sozinho. Ele veio trazer ao mundo o amor de Deus e quer difundi-lo com o estilo de comunhão e fraternidade. Por isso, forma imediatamente uma comunidade de discípulos, que é uma comunidade missionária. Ele forma imediatamente os discípulos para a missão, para ir."
O Santo Padre sublinhou que "o objetivo não é socializar, passar o tempo juntos, não. O objetivo é anunciar o Reino de Deus e isso é urgente! Não há tempo a perder com conversa, não é preciso esperar o consenso de todos. É necessário ir e anunciar. A todos devemos levar a paz de Cristo e se não a acolherem, vamos em frente. Aos doentes se leva a cura, porque Deus quer curar o ser humano de todo mal. Quantos missionários fazem isso! Eles semeiam vida, saúde e conforto nas periferias do mundo".
"Estes setenta e dois discípulos que Jesus manda à sua frente, quem são eles? Quem eles representam? Se os Doze são os Apóstolos e representam também os bispos, os seus sucessores, esses setenta e dois podem representar os outros ministros ordenados, presbíteros e diáconos; mas num sentido mais amplo, podemos pensar em outros ministérios na Igreja, nos catequistas e fiéis leigos que trabalham nas missões paroquiais, naqueles que trabalham com os doentes, com as várias formas de desconforto e marginalização, mas sempre como missionários do Evangelho, com a urgência do Reino que está próximo."
O Evangelho nos diz que os setenta e dois voltaram de sua missão cheios de alegria, porque tinham experimentado o poder do Nome de Cristo contra o mal. Jesus confirma isso. A esses discípulos Ele dá a força para destruir o mal, mas acrescenta: "Contudo, não se alegrem porque os maus espíritos obedecem a vocês; antes, fiquem alegres porque os nomes de vocês estão escritos no céu". Não devemos nos vangloriar como se fôssemos os protagonistas: o protagonista é o Senhor, a sua graça. A nossa alegria é somente essa: ser seus discípulos, seus amigos. Que Maria nos ajude a ser bons operários do Evangelho.
Após a oração do Angelus, Francisco recordou a publicação, na última sexta-feira, da Encíclica Lumen fidei (Luz da fé).
"Para o Ano da Fé, o Papa emérito Bento XVI iniciou esta encíclica, após a da caridade e esperança. Eu peguei esse projeto e o concluí. Eu o ofereço com alegria a todo o Povo de Deus. Hoje, especialmente precisamos ir ao essencial da fé cristã, precisamos aprofundá-la e confrontá-la com as problemáticas atuais. Acredito que esta encíclica, pelo menos em algumas partes, poderá ser útil para aqueles que estão à procura de Deus e do sentido da vida. Eu a coloco nas mãos de Maria, ícone perfeita da fé, para que possa dar os frutos que o Senhor deseja."
O Santo Padre saudou todos os presentes, particularmente os jovens da Diocese de Roma que se preparam para ir ao Rio de Janeiro na Jornada Mundial da Juventude. "Queridos jovens, eu também estou me preparando! Caminhemos juntos rumo a esta grande festa da fé. Que Maria nos acompanhe."
Enfim, o Papa Francisco saudou as Irmãs Rosminianas e as Franciscanas Angelinas que realizam seus Capítulos Gerais e os responsáveis pela Comunidade de Santo Egídio que vieram de vários países para o curso de formação. (MJ)

"Onde estás, Adão? Onde está o teu irmão?" Na missa penitencial, em Lampedusa, Papa Francisco deplora a indiferença geral e pergunta: "Quem chora os que morrem aqui?"

Rádio Vaticana
Momentos intensos, e de grande comoção, e interpelação à consciência de todos e cada um, os que se viveram esta manhã em Lampedusa, pequena ilha no extremo sul da Itália, onde continuam a chegar, em pequenas barcas, pessoas da África (e por vezes do Médio Oriente) que tentam encontrar melhores condições de vida na Europa. Muitos deles - uns 20 mil - perderam a vida nesta “viagem da esperança”, por naufrágio das embarcações ou por fome e sede.
A quatro meses da sua eleição, a primeira viagem do Papa Francisco, foi dedicada precisamente a estas pessoas, e aos habitantes de Lampedusa, muitos dos quais têm feito tudo o que podem para dar um primeiro apoio às pessoas mais carecidas.
Chegado a Lampedusa de avião, o Papa embarcou numa corveta, acompanhado de muitas outras embarcações, numa viagem de quase meia hora que o levou ao porto da ilha. Durante o percurso, Francisco reservou longos minutos à oração silenciosa, no final da qual lançou ao mar um ramo de flores, em memória dos que perderam a vida. E traçou uma cruz sobre este mar que tem sido tantas vezes sepultura.
Após o desembarque, o Papa deteve-se num breve colóquio com uma delegação de africanos chegados a Lampedusa, a seu tempo, como prófugos (foto).
Às 10.30, o Papa presidiu à missa, uma liturgia penitencial, invocando a remissão dos pecados, com a cor litúrgica roxa. Na homilia, o Papa começou por evocar a morte de tantos imigrantes, naquele mar, notícia tida não há muito.
“Onde está o teu irmão?!” Quem é o responsável deste sangue, destas mortes? – interpelou o Papa, que falou da “globalização da indiferença”.
“Perdemos o sentido da responsabilidade fraterna. Caímos na atitude hipócrita do sacerdote e do servidor do altar, de que fala Jesus na parábola do Bom Samaritano…
“Adão, onde estás? Onde é o teu irmão? – são as duas perguntas são as duas perguntas que Deus propõe no início da história da humanidade e que dirige também a todos os homens do nosso tempo, também a nós”.
A estas perguntas, o Papa acrescentou uma outra, sua:
“Quem de nós chorou pela morte destes irmãos e irmãs? Quem chorou por estas pessoas que estavam nas barcas? Pelas jovens mães que traziam os seus bebés? Por estes homens que desejam algo para apoiar as próprias famílias?
Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de sofrer com (com-paixão): a globalização da indiferença.
Evocando o Evangelho proclamado, das crianças inocentes, vítimas da fúria de Herodes. “Raquel chora os filhos perdidos”…
“Peçamos ao Senhor que cancele o que ficou de Herodes no nosso coração. Peçamos ao Senhor a graça de chorar sobre a nossa indiferença, sobre a crueldade que há no mundo, em nós, também naqueles que no anonimato tomam decisões socioeconómicas que abrem o caminho a dramas como este. Quem chorou?
O Papa concluiu, em jeito de oração, pedindo ao Senhor “perdão pela indiferença em relação a tantos irmãos e irmãs:
“Pedimos-te perdão para quem se … fechou no seu próprio bem-estar, que leva à anestesia do coração, pedimos-te perdão por aqueles que, com as suas decisões a nível mundial criaram situações que conduzem a estes dramas.
Adão, onde estás? Onde está o sangue do teu irmão?”

Papa em Lampedusa: apelo à solidariedade e à acolhida







 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) – Papa Francisco iniciou, na manhã desta segunda-feira, sua primeira visita em território italiano, que o levou a Lampedusa: uma ilha que faz fronteira entre a África e a Itália.
A idéia de visitar a ilha de Lampedusa nasceu por causa dos contínuos desembarques e naufrágios de migrantes, sobretudo provenientes da África. Tocado por esta série de tragédias, o Santo Padre, decidiu fazer uma visita à comunidade paroquial e aos imigrantes sobreviventes, para com eles rezar e dar-lhes coragem a superar com dignidade a dramática situação.
O Papa deixou a Casa Santa Marta, onde reside no Vaticano, às 7.20, hora local e às 8 hs do aeroporto romano de Ciampino. Após uma hora e quinze minutos de vôo, chegou ao aeroporto de Lampedusa, onde foi acolhido pelo Arcebispo de Agrigento, Dom Francesco Montenegro, pela prefeita da cidade, Giuseppina Nicolini.
A recepção foi muito cordial, mas sem discursos e singela, segundo o desejo do próprio Papa. Do aeroporto, partiu de carro até a enseada Cala Pisana, de onde embarcou, com a fragata da marinha italiana, ao Porto de Lampedusa, acompanhado de cerca de cem pequenos barcos de pescadores. Durante o breve trajeto, Papa Francisco lançou uma coroa de flores em homenagem às vítimas dos naufrágios.
Às 9,30, o barco do Papa chegou ao Porto de Lampedusa, em Punta Favarolo, onde foi acolhido por um grupo de jovens imigrantes. Um deles fez uma breve saudação ao Papa, em árabe, em nome dos presentes, dizendo:
“Agradecemos pela sua presença entre nós e esperamos que o senhor possa resolver nosso problema. Fugimos do nosso país, por dois motivos: político e econômico. Passamos por muitos obstáculos e fomos seqüestrados por traficantes até chegar aqui. Esperemos que outros países Europeus também nos ajudem”.
O Papa agradeceu os imigrantes e pediu para rezar, com ele, uns pelos outros. A seguir, o Pontífice se dirigiu, com um jipinho local, ao campo esportivo vizinho, chamado Arena, na localidade Salina, para a celebração da Santa Missa.
Durante a celebração Eucarística, o Santo Padre vai utilizou um báculo pastoral, em forma de cruz, feito com a madeira das embarcações naufragadas dos imigrantes. No braço horizontal da cruz, estão cunhados dois peixes; e no vertical, cinco pães, recordando a passagem evangélica da multiplicação dos pães: “Dai-lhes, vós mesmos, de comer”.
Nestas palavras, podemos reler o gesto significativo da partilha, a partir daquele pouco que a comunidade de Lampedusa dispõe, colocado à disposição nos momentos mais difíceis da acolhida dos irmãos imigrantes. A incisão do coração, de cor vermelha, entre os dois braços da cruz do báculo pastoral, significa a caridade, que deve estar sempre ao centro da assistência dos refugiados da comunidade cristã.
Outro objeto utilizado na Missa foi o Cálice de madeira, com revestimento interno em prata, segundo as normas litúrgicas. À base do cálice foi colocado um cravo transversal, que relembra a Paixão de Cristo. A madeira também foi extraída de embarcações dos naufrágios de imigrantes.
Tanto o báculo pastoral como cálice são obra de um artesão da ilha de Lampedusa, que tanto trabalhou, sobretudo nos dias de maior emergência, para socorrer os irmãos refugiados.
O ponto alto da visita do Papa Francisco a Lampedusa foi a celebração Eucarística, no campo esportivo de Arena. O formulário da Missa é o da “remissão dos pecados, pelas necessidades particulares, previsto pelo Missal Romano.
Os textos da Liturgia da Palavra, o acontecimento de Caim e Abel, a matança dos inocentes e o salmo do Miserere nobis (tende piedade de nós), como também a cor roxa dos paramentos litúrgicos, são consoantes ao aspecto penitencial e à sobriedade da Missa.
Papa Francisco iniciou sua homilia com as seguintes palavras: “Os imigrados mortos no mar eram trazidos por embarcações, que ao invés de serem meios de esperança os conduziram à morte”! Ao saber destas notícias, que se repetiram numerosas vezes, disse o Papa, “transpassavam meu coração como um espinho, causando-me tanto sofrimento”.
Eis porque, disse o Papa Francisco, “decidi fazer esta visita aqui, para rezar e realizar um gesto de solidariedade, a fim de despertar as consciências para que tais tragédias não se repitam mais.
Depois, o Papa expressou seus agradecimentos ao arcebispo Montenegro, por sua cordial saudação, mas, sobretudo, às associações, voluntários e forças de segurança, que dispensaram e dispensam atenção e acolhida às pessoas em sua viagem rumo à esperança e a uma vida melhor. “Vocês, disse, são uma pequena realidade, mas oferecem um grande exemplo de solidariedade!”
Aqui, o Pontífice dirigiu uma palavra também aos queridos imigrados muçulmanos, que estão iniciando o jejum de Ramadã, com seus auspícios de abundantes frutos espirituais. A Igreja, afirmou o Papa, os acompanha na busca de uma vida mais digna, para vocês e suas famílias.
Partindo da Liturgia do dia, o Santo Padre propôs algumas reflexões para mover a consciência de todos e levar a tomar atitudes concretas para uma mudança radical da realidade.
Neste sentido, mediando as palavras da Liturgia, o Papa perguntou: “Adão, onde você está”? Adão é um homem desorientado, que perdeu o seu lugar na criação, porque queria se tornar poderoso e dominar tudo, como um deus. Mas, a harmonia se rompe e o homem erra.
E o Santo Padre faz uma segunda pergunta: “Caim, onde está seu irmão”? O sonho de ser poderoso, de ser grande como Deus, ou melhor, de ser outro deus, leva a uma cadeia de erros: a cadeia da morte; leva ao derramamento de sangue do irmão!
Estas duas questões ressoam hoje, com toda a sua força. E o Papa explica:
“Muitos de nós, eu inclusive, somos desorientados, não damos mais atenção ao mundo em que vivemos, não temos cuidado, não zelamos por aquilo que Deus criou para todos e não somos mais capazes nem de cuidar uns dos outros. Quando esta desorientação assume as dimensões grandes como o mundo, acontecem tragédias com aquelas que assistimos”.
A pergunta “onde está seu irmão” não é feita apenas a Caim, mas a mim, a você e a cada um de nós. Muitos dos nossos irmãos e irmãs, que procuravam e procuram fugir de situações difíceis, para encontrar um pouco de serenidade e de paz; buscam um lugar melhor para si e suas famílias, mas quantas vezes não encontram compreensão, acolhida, solidariedade!
O Papa pergunta ainda: “Onde está seu irmão”? Quem é o responsável pelo derramamento de sangue de tantos irmãos e irmãs? E responde: “Ninguém”, respondemos nós: “Não fui eu”; “Foram outros”... E acrescentou:
“Hoje, ninguém se sente responsável disso; perdemos o sentido da responsabilidade fraterna. Caímos em uma atitude hipócrita do sacerdote e do servidor do altar, da qual Jesus fala na parábola do Bom Samaritano: olhamos o irmão meio morto à margem da estrada e, talvez, dizemos “coitadinho”, e continuamos a caminhar, pensando “esta tarefa não é minha”... e continuamos tranqüilos”!
A cultura do bem-estar, comentou o Pontífice, nos leva a pensar só em nós mesmos, nos torna insensíveis ao grito de socorro dos outros, nos tornam bolhas de sabão e nos deixam na indiferença, na ilusão, na ilusão. Estamos acostumados a ver os outros sofrerem.
Mas, isto não nos interessa, não é problema nosso: somos responsáveis anônimos e sem rosto. Porém, o Papa acrescenta uma terceira pergunta à sua reflexão: “Quem chorou pela morte destes irmãos e irmãs que estavam nas embarcações? E pelas jovens mães que traziam no seio suas criaturas? E por aqueles jovens que buscavam um futuro melhor para suas famílias?
O Papa respondeu dizendo: “Somos uma sociedade que não sabe mais chorar. Eis a globalização da indiferença! E concluiu com uma exortação:
“Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, pela crueldade que reina no mundo, em nós, e também naqueles que tomam decisões sócio-econômicas, que abrem a estrada para dramas como estes. Peçamos perdão pela indiferença com tantos irmãos e irmãs; pelos acomodados, fechados em seus corações anestesiados; perdão por aqueles que, por causa das suas decisões, em nível mundial, criaram situações que se concluem com estes dramas”.
Papa Francisco concluiu sua comovente homilia, repetindo as perguntas: “Adão, onde você está”? “Onde está o sangue do seu irmão”? E, antes da dar a bênção final aos numerosos fiéis presentes, fez uma oração diante da imagem da Virgem Maria, Estrela do Mar e Refúgio dos Pecadores, para implorar sua proteção e socorro à comunidade de Lampedusa e aos seus imigrados.
Ao término da celebração Eucarística, o Pontífice dirigiu-se de jipinho à paróquia de São Gerlando, para uma breve visita. A seguir, se transferiu ao aeroporto de Lampedusa, onde tomou o avião que o levou para Roma, onde chegará pelas 14 horas locaius. O Papa dirigiu-se, de carro, diretamente ao Vaticano. (MT)